Apesar da minha ausência de 1 ano no blog, não poderia deixar passar este dia, sem uma pequena homenagem a dois nomes grandes das Artes, que acabaram de partir. O primeiro, um americano que muito me influenciou, o segundo, um vulto maior da pintura contemporânea nacional.
"A Mancha Humana" - Philip Roth
De volta ao trabalho e à rotina, ao blog e também a Philip Roth, agora com “A Mancha Humana”, a minha terceira leitura do autor. Livro extraordinário, este.
Apesar dos dois romances que li anteriormente ("A Humilhação" e "Pastoral Americana") terem histórias completamente distintas, neste são visíveis algumas peculiaridades no estilo de escrita de Roth. Por exemplo, a abordagem de assuntos sérios e polémicos que, em “A Mancha Humana”, é o racismo; a periclitância das personagens - hoje herói e amanhã traste -; finalmente as subtis alusões ao Judaísmo (naturalíssimas, não fosse o próprio escritor judeu), entre outras.
Estamos em 1998, a América é abalada pelo "escândalo Lewinsky".
Coleman Silk, o personagem principal, tem 71 anos e é um professor catedrático reformado. Apesar de toda a vida, quer profissional quer socialmente, ter sido um homem de sucesso, tem o final de carreira abalado pelo caso “spooks”. Uma palavra dita por Coleman numa aula acabou em denúncia de racismo e desencadeou uma catadupa de acontecimentos que o aniquilaram literalmente.
Toda a gente tem segredos mas como será viver omitindo algo relacionado com a essência do ser humano? É possível representar essa personagem no dia-a-dia? Assim viveu Coleman, escondendo de todos, mesmo dos que lhe eram muito próximo, um segredo próprio, que carregou toda a vida.
“A Mancha Humana” é um romance arrebatador. Envolvente, altamente viciante, com tantas voltas, reviravoltas e revelações, que às vezes até lembra um policial. Faz jus aos prémios que lhe foram atribuídos: "The Man Booker International Prize 2011", “Prémio Médicis 2002", "Prémio Britain's W.H. Smith", "American PEN/Faulkner", entre outros.
Obviamente, recomendo!
Na altura da atribuição do Prémio Nobel da Literatura 2013, fui reler esse grande escritor que nos últimos anos é quase sempre apontado como um candidato ao prémio, Philip Roth. Ainda não foi desta que venceu, o Nobel foi atribuído a Alice Munro, uma Canadiense octogenária, mestre do Conto, vencedora do Man Booker International Prize, em 2009.
Também Philip Roth foi galardoado com esse prémio, em 2011. Autor muito premiado na América, com "Pastoral Americana" venceu o Prémio Pulitzer, em 1997. É um livro que aborda sentimentos contraditórios sobre a América, rico e completíssimo.
Seymour Levov, por todos conhecido como o “Sueco” é judeu e, quando jovem, era a "estrela" do Liceu. Todos, sem excepção, nutriam por ele uma grande simpatia e admiração, idolatrando-o por ser um ás do Desporto, destacando-se no Basebol. Mas para o Sueco o importante e objectivo principal na vida sempre foi passar despercebido, manter a harmonia à sua volta, ter um lar, casar-se e ser feliz. Assim, apaixona-se e vem a casar-se com a Miss New Jersey, vai viver para a casa dos seus sonhos e tem uma filha. Tudo parecia encaixar-se de forma perfeita até ao dia em que vê partir a filha, Merry, de 16 anos, que sai de casa para nunca mais voltar.
Fui percorrendo as páginas deste livro sempre com grande deleite, muito na expectativa de descobrir os motivos que levam uma adolescente a tornar-se bombista, assassinando dessa forma 4 pessoas. Uma jovem que aparentemente tudo tinha para não ser assim, pois era oriunda de uma família que a amava e lhe procurou dar uma educação exemplar.
Coloquei-me no lugar de Merry e não consegui encontrar motivos para tamanha rebeldia e ódio: teria sido a gaguez a causa de tanta revolta? As imagens da auto-imolação do monge budista no Vietname que aos 11 anos sideraram Merry? As evasivas do avô paterno contra alguns dirigentes Americanos? A guerra do Vietname pela qual Merry sempre foi contra? Quais seriam os verdadeiros motivos que a moviam?
Não, nenhuma destas causas me pareceram suficientes para levarem alguém a ser bombista, a matar sem remorsos, a fugir da família sem deixar rasto, trocando o conforto e a protecção por uma vida de pária, com tudo o que isso implica, até mesmo ser violada. A odiar a sua pátria, a América. Verdadeiramente o antídoto do sonho do pai.
Este é o âmago da história mas há mais, muitas questões pertinentes são levantadas: a guerra, o Judaismo, o Catolicismo, o conflito entre religiões e gerações, o orgulho ou a vergonha de ser Americano, entre tantas outras. Tudo muito bem escrito...
Recomendo Philip Roth e “Pastoral Americana”, sem qualquer reticência. É um autor que quero continuar a ler mais e mais.
Apesar da curiosidade que há muito tinha em conhecer a escrita de Philip Roth, fui protelando e só agora entrei no seu mundo literário. Estreei-me com “A Humilhação”, o trigésimo livro do autor.
As poucas folhas e a escrita aparentemente acessível, poderiam à primeira vista sugerir tratar-se de uma leitura simples, quase básica, mas não. Na realidade, a escrita e a história estão recheadas de pormenores inteligentes, subtis e alguma psicanálise.
Roth elaborou um enredo envolvente e imprevisível, cheio de voltas e reviravoltas, deixando o leitor em constante meditação. Vários temas sérios e actuais são referidos: o suicídio, a pedofilia, a homossexualidade, por exemplo. E sexo... descrições explícitas que fazem corar o menos puritano!
O livro começa com o declínio do protagonista, o conceituado actor de Teatro e Cinema chamado Simon Axler, de 65 anos. Com um currículo invejável, de repente perde tudo: a confiança na arte de representar, a magia, o talento, a vontade de viver e até a própria mulher o abandona. Não conto outros pormenores, pois correria o risco de revelar demasiado… e foi tão empolgante descobrir a história página a página!
Sendo “A Humilhação”, o único título deste autor norte-americano de ascendência judaica que li até ao momento, talvez seja prematuro fazer uma associação de estilo e estrutura de escrita. Contudo, atrever-me-ia a coloca-lo entre Truman Capote e Cormac McCarthy.
Ficou uma vontade enorme de voltar a Philip Roth, na expectativa de descobrir melhor a sua escrita. Curiosa e coincidentemente, enquanto lia “A Humilhação”, vi uma entrevista que concedeu a um dos nossos canais televisivos e também aqui fiquei fascinada pela simplicidade e naturalidade com que se expôs, desvendando alguns dos enigmas dos seus livros mais marcantes.
Verdadeiramente um nome a reter, um premiado autor a reler.
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