Num zapping televisivo de uma tarde preguiçosa de Domingo, dei com uma entrevista a J. E. Agualusa. Gostei do que ouvi, de tal modo que fui à estante procurar "O Vendedor de Passados" - estava lá desde 2004, ano em que foi editado.
Coincidentemente acabara nesse dia a leitura anterior e, como poucos dias faltavam para as férias e o livro era pequeno e magrinho, achei que o leria num ápice. Enganei-me, o trabalho exigiu muito e não sobrou tempo para as leituras. Assim, acabei por levá-lo comigo.
Não estou certa de ter sido a escolha ideal, apesar de ter gostado muito.
É um romance que se passa em Luanda e o relator é uma osga chamada Eulálio que nos conta como Felix Ventura, um negro albino, constrói histórias de vida a quem o procura. Esses fregueses são todos abastados, figuras importantes da emergente sociedade angolana. Homens de negócios, políticos, ministros, generais, gente com um presente e um futuro prósperos, mas a quem falta um passado digno... Félix Ventura estuda-lhes a personalidade, elabora uma árvore genealógica fantástica e vende a essa gente um passado com dignidade... um passado falso, claro!
Subtil e metaforicamente a colonização angolana é abordada, assim como os traumas que ficaram na formação da identidade de um povo agora livre e à procura de rumo.
A escrita é deliciosa e brilhante, o tema requeria atenção. Foi talvez o que me faltou, porque a cabeça andava nas nuvens e a concentração era difícil.
Hei-de voltar a Agualusa, num contexto mais tranquilo, menos gondoleiro.