Recentemente tive o privilégio de conhecer o escritor Afonso Cruz. Além de concretizar a vontade que ficou desde que o li pela primeira vez, pude saber de factos pessoais que, obviamente, não vêem mencionados nos livros. Partilharei alguns neste post… outros, quem sabe, num futuro artigo, quando a ele regressar. Uma coisa é certa: mantenho uma grande vontade de continuar a descobrir a bibliografia deste autor e mais livros seus aguardam na estante (agora quase todos autografados).
“A Carne de Deus” foi o primeiro romance editado de Afonso Cruz embora o primeiro a ser escrito tenha sido “Enciclopédia da História Universal”. Afonso Cruz apresentou-o à Bertrand que colocou algumas reservas em relação ao sucesso comercial, além do facto de já haver um título editado, quase igual: “Inciclopédia da História Universal”. Foi-lhe então sugerido que escrevesse um romance e assim surgiu “A Carne de Deus”, uma história que o escritor há muito tinha na cabeça.
Uma vez mais Afonso Cruz confirma o estilo de narrativa que tanto me agradou em “Jesus Cristo Bebia Cerveja”, assim como a forma hilariante e fácil de expor as ideias, cativando o leitor. Mas aqui a história é bem diferente: trata-se de um enredo cheio de peripécias e muito suspense a fazer lembrar os livros de Dan Brown.
O tema central é a Maçonaria.
A trama começa com o brutal assassinato de Felicijonas Salnius - um dos maçons fundadores da “Perséfone” uma Loja selvagem - com um esquadro metálico enterrado no crânio. Este homicídio, carregado de simbolismo, deixa os restantes fundadores desta Loja Maçónica de tal maneira em pânico que, entre eles, surge a hipótese de serem revelados segredos, para evitar mais mortes.
Tudo escrito com humor!
Não poderiam faltar as personagens engraçadíssimas, com nomes estranhos. O livro tem dezenas: Marin Grigore, Daim Kuçuk, professor Miroiu, Arkadiusz Pilatowski… nomes bizarros que Afonso Cruz foi buscar a um jogo de consola sobre contratações de futebol, quando trabalhava numa Agência Publicitária.
“A Carne de Deus” é também o nome de um mítico cogumelo alucinogénio ainda hoje utilizado no folclore dos curandeiros do México e da Guatemala. Esse e outros “enteógenos” (o mesmo que alucinogénios) são o cerne deste livro mas, para saberem mais sobre a ligação que têm com a história, vão ter de a ler… deixo um excerto:
Há quem seleccione os livros por épocas e estações do ano: o livro xis é bom para a praia, o ípsilon para ler à lareira - a blogosfera está repleta de teorias destas.
As minhas escolhas mantêm-se mais ou menos coerentes ao longo do ano: procuro ser ecléctica, ler livros de autores que me agradem ainda que, claro está, os meus estados de espírito e as últimas leituras tenham influência na escolha.
Posso dizer que o último título veio na altura certa... perfeito!
Depois da leitura sombria e pesada de “Em Queda Livre”, do mestre Golding, decidi que a próxima haveria de ser mais optimista, menos opressiva. Isso e a curiosidade pelo autor Afonso Cruz tornaram fácil a escolha de “Jesus Cristo bebia cerveja”.
Com capítulos curtos e uma escrita muito própria, acessivelmente empolgante - quase naïf sem cair no básico (como poucos conseguem) -, em “Jesus Cristo bebia cerveja” ficamos a conhecer Rosa (a personagem principal), a sua avó Antónia (que queria ir a Jerusalém), o professor Borja (um erudito que ninguém queria ouvir), Miss Whittemore (a inglesa que comprou a aldeia alentejana), o pastor Ari, para além de outras personagens peculiares, comicamente cativantes.
A narrativa desenrola-se no Alentejo, aquele das casas pintadas de branco, o Alentejo da terra seca, dos montes, das oliveiras, das gentes com muitas histórias de algibeira.
O cerne do romance é precisamente o desejo da Avó Antónia querer ir a Jerusalém e da neta, com a cumplicidade do Professor Borja, engendrar uma forma de preparar, no Alentejo, uma falsa Terra Santa para lhe satisfazer esse desejo.
Tantas vezes, olhos postos nas páginas do livro, dei por mim a rir à gargalhada. Contudo, o final surpreendeu-me com um engolir em seco quase a rasar a comoção.
“Jesus Cristo bebia cerveja” acompanhou-me durante a época natalícia, na minha viagem de sonho à Terra Santa e alguns dias após o regresso. Quando lhe peguei, pouco ou nada sabia sobre o conteúdo e desconhecia a parte relacionada com Jerusalém. Daí a boa surpresa, o timing perfeito... (ele há coincidências!).
Nascido em 1971, Afonso Cruz é escritor, músico, cineasta e ilustrador. Tem um currículo “invejável” que inclui, entre tantos outros sucessos, 8 livros publicados, vários prémios entre os quais o da União Europeia para a Literatura, ilustrações em revistas, capas de livros, publicidade, etc..
“A Morte Não Ouve o Pianista”, o pequeno livro de westerns que é o favorito de Rosa e tantas vezes mencionado na história de “Jesus Cristo bebia cerveja” foi escrito e ilustrado por Afonso Cruz. Uma ideia muito original que comprova a versatilidade do autor.
A Numa de Letra gostou tanto que foi a correr comprar “A Boneca Kokoscha”, só para ter o prazer de ver na estante um livro de Afonso Cruz novinho em folha, à espera de ser lido.
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