Domingo, 8 de Julho de 2012
 
 
Não foi em vão que os ditados populares foram inventados e é um facto que a base empírica que os sustenta coincide muitas vezes com a realidade, por isso perduram.

O velho ditado que diz “primeiro estranha-se, depois entranha-se” é um bom exemplo da adaptação desta sabedoria popular a situações do quotidiano. No meu testemunho mais recente, o provérbio enuncia com clareza o que me aconteceu com o livro “Quantas Madrugadas Tem a Noite”, de Ondjaki.

 

Até há poucos meses, Ondjaki não fazia parte da lista de autores que eu conhecia. Foi por mero acaso, num zapping, que uma mesa recheada de livros, uma parede de fundo a condizer e uma entrevista a sustentá-las me prenderam a atenção e me fizeram ficar a assistir àquele programa televisivo. O entrevistado, fiquei a saber, era Ondjaki, um escritor angolano jovem, simpático, de retórica fluente e interessante.

Gostei da forma como Ondjaki descreveu episódios da vida ligados ao seu percurso literário e outros relacionados com livros que escreveu, já editados.

Mas o ponto mais alto da entrevista foi quando revelou que “Cem Anos de solidão” era o seu livro predilecto. Tal e qual como o meu. Por isso quando a seguir referiu “A Náusea” de Jean Paul Sartre, como outro dos seus livros de eleição, coloquei-o de imediato na lista de prováveis leituras, da mesma maneira que no final do programa, juntei “Ondjaki” ao meu rol de potenciais autores, sem lhe associar um título.

 

“Quantas Madrugadas Tem a Noite” está acabadinho de ler...

 

A estranheza inicial que mencionei, prende-se com a linguagem usada por Ondjaki neste livro. Estamos perante uma narrativa contada na primeira pessoa, recheada de dialecto, gíria, calão e até erros ortográficos. Tudo propositado, claro! e a fazer muito sentido - é que nem consigo imaginar o livro escrito de outra forma -.

No final há um Glossário que, diga-se de passagem, é perfeitamente dispensável para se entender o texto.

 

O narrador, personagem principal do livro, conta a "avilo" (amigo; companheiro) a história do defunto AdolfoDido cujo corpo foi roubado. Uma história com muitos parêntesis pelo meio onde encaixam outras histórias, "os eteceteras que sempre aparecem no meio duma conversa humana", como o próprio narrador diz. Tudo bem regado por "mais uma birra" (cerveja) à custa do "avilo".

 

“Quantas Madrugadas Tem a Noite” mistura humor, poesia e suspense. 

Um romance hilariante com personagens sui generis, como o anão BurkinaFaçam, o albino Jaí ou a KotaDasAbelhas.

Poucas foram as páginas em que não sorri e houve até algumas que me proporcionaram boas gargalhadas.

Um livro divertidíssimo, bem escrito e muito fora do tradicional, leve mas penetrante, de um nome a reter.

 

 


publicado por numadeletra às 16:15 | Link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos (1)

8 comentários:
De marcia a 8 de Julho de 2012 às 17:09
Interessante é o que tenho a dizer. Já sabia mais ou menos a tua opinião da nossa conversa sobre este livro (e sobre tantos outros). De qualquer modo ainda não sei se me convence a ler...gostos...


De numadeletra a 8 de Julho de 2012 às 17:43
Talvez não seja o teu género de livro, de facto.
Gostos são gostos e ainda bem que diferem.

Independentemente disso, ías-te divertir.
É tão cómico que funciona quase como uma terapia em prol da boa disposição


De marcia a 8 de Julho de 2012 às 19:17
Terapia de riso? Só por isso posso pensar no assunto.
E que tal Raymond Carver?


De numadeletra a 9 de Julho de 2012 às 14:00
Foi um dos livros mais engraçados que li.

Para já ainda não posso falar de R. Carver...



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