Terça-feira, 22 de Maio de 2012
 

O paraíso na outra esquina_MVL.jpg

 

Foi o penúltimo livro que li. Terminei-o no início deste mês.

Já pairava na estante lá de casa desde o Natal de 2010 e por diversas vezes estive a ponto de lhe pegar - numa delas até comecei a ler algumas páginas do primeiro capítulo - mas voltei a arrumá-lo e só agora fui até ao fim.

Gostei muito, é um belo livro e, para quem gosta de Arte como é o meu caso, é um livro do melhor!!

Em capítulos alternados, Mario Vargas Llosa conta a história de Flora Tristán e do seu neto, Paul Gauguin. Apesar do grau próximo de parentesco, o destino destas personagens nunca se cruza e o ponto mais próximo entre ambos é a abordagem a Aline, filha de Flora e mãe de Gauguin.

Mais adiante na narração, torna-se óbvio que nunca se poderiam ter encontrado, simplesmente porque quando Flora Tristán morreu, aos 41 anos, Paul Gauguin não era, sequer, nascido.

Eu pouco conhecia da vida do pintor e durante a leitura deste livro mantive a dúvida se a história seria real ou fruto da criatividade de Mario Vargas Llosa.

A verdade é que ele conta certas curiosidades sobre a vida de Eugène-Henri-Paul Gauguin, como por exemplo, o facto de ter deixado a família – mulher e filhos – para rumar ao Taiti e dedicar-se exclusivamente à pintura e até sobre o amigo Vincent Van Gogh ter cortado uma orelha e posteriormente se ter suicidado, em Arles.

Flora Tristán é uma feminista revolucionária, marcada por um casamento infeliz do qual foge, deixando para trás os filhos e passando a dedicar o resto da vida à luta pelos seus ideais: os direitos das mulheres e dos operários.

Também achei curioso saber que Paul Gauguin – Koke, de petit nom – até à casa dos 30 anos nunca desenhou, nem pintou, nem fez nada ligado à Arte. Pelo contrário, sempre considerou os artistas uns “maricas”, desprezando, de certa forma, a Arte. Trabalhava com afinco na Bolsa de Paris onde era muito bem visto e bem remunerado.

Foi o quadro “Olympia”, de Manet, que Paul Gauguin considerou uma obra-prima e que fez despertar nele um instinto muito forte e o instou a pintar.

O amigo Schuffenecker levou-o a aprender pintura, começando então a desenhar às escondidas da mulher (a dinamarquesa Mette Sophie Gad) e a pintar. A partir daí o seu casamento entra em ruptura.

Aos 35 anos recebeu, com alegria, a notícia da quebra da Bolsa de Paris, com o consequente despedimento, o que lhe facilitou a vida… Deixou a família e viajou, dedicando-se exclusivamente à pintura.

Para mim, a magia do livro foi poder ler a história deste grande artista (sem menosprezar a escrita de Mario Vargas Llosa). Quem me dera encontrar mais livros do mesmo género, em relação a outros mestres da Pintura... Porque a verdade é que por trás de cada vida há uma história e há nomes tão importantes no mundo das Artes cujos percursos desconhecemos, que livros como “O Paraíso na Outra Esquina”, mesmo sendo romances, trazem sempre um fundo de verdade sobre a história de gente maior e isso fascina-me. 

 

Retalho final.jpg

 

Olympia_Manet.jpg

 

  

 
 
 
 
 
 
"Olympia", Manet 
 
 


publicado por numadeletra às 19:57 | Link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

13 comentários:
De 222 a 27 de Maio de 2012 às 10:03
Ainda não li "O Paraíso na Outra Esquina", mas, pelo que conta neste post, lembra-me "A Lua e Cinco Tostões", de Somersert Maugham, que a ASA editou há uns anos. Também é baseado na vida de Gauguin. E já que falo em Maugham, conhece "O Fio da Navalha"?


De numadeletra a 27 de Maio de 2012 às 18:56
Boa tarde 222 e obrigada pelo comentário.

Gostei de saber do "A Lua e Cinco Tostões", de Somerset Maugham. Será mais um para a lista da Feira do Livro do Porto :-)

Quanto a "O Fio da Navalha", conheço sim mas ainda não tive oportunidade de ler, ainda que esteja no rol das minhas prioridades litrerárias.
Que me tem a dizer sobre este clássico?


De 222 a 28 de Maio de 2012 às 19:00
Já o li há uns anos e aquilo que me ficou foi sobretudo um sentimento de admiração por um homem muito singular, chamado Larry, de que Maugham fala no livro; um homem que parte, que abandona tudo e todos (como Gauguin!) em busca de um sentido maior para a sua vida. Lembro-me da vontade incansável de Larry em querer saber mais, do seu questionamento constante, e de me obrigar a reflectir sobre as mesmas questões.


De numadeletra a 30 de Maio de 2012 às 08:19
Tenho de o ler em breve, sem dúvida... Obrigada!!


De pedrices a 31 de Maio de 2012 às 21:19
Boa sorte... Eu não gostei lá muito. Mas quase toda a gente que conheço e leu gostou muito. Até o 222 que não gosta de quase nada que toda a gente tenha gostado.

;)



De numadeletra a 1 de Junho de 2012 às 08:35
Hmm :-/


Comentar post

mais sobre mim
numadeletra@gmail.com
numadeletra@sapo.pt
Maio 2018
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
17
18
19

20
21
22
24
25
26

27
28
29
30
31


Philip Roth - Júlio Pomar

"A Peregrinação do Rapaz ...

Registos de Rua... parte ...

Para sempre George Michae...

Feliz Natal!

“A Mulher”, de Meg Wolitz...

Registos de Rua... parte ...

Exposição de Artes Plásti...

Dia do Animal

Dia Mundial da Música

Maio 2018

Maio 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Olá. Cheguei a teu blog pelo do velho Guima, na di...
Parabéns pelo BLOG....Sucesso
Parabéns pelo regresso. Também pela evocação de Ph...
Parabéns pelo 5º aniversário :)Deste autor, ainda ...
Tampouco gostei. Achei enfadonho e foi com dificu...
Mesmo sem ser um fã de Murakami, a verdade é que e...
Parabéns :|
O livro nunca esteve proibido em Portugal.
Gostaríamos de oferecer gratuitamente 60€ em publi...
Que frase extraordinária, adorei!Um bom ano para t...
tags

1q84

2012

2013

2014

2015

2016

39 em 1

55ª exposição internacional de arte

acordo ortográfico

aeroporto

afonso cruz

agradecimento

animais

aniversário

ano novo

antónio

antónio alçada baptista

arte

as leituras dos outros

barcelona

bienal de veneza

boas festas

bom fim-de-semana

bruxelas

caricatura

caricaturista

cascais

catarina ou o sabor da maçã

cinema

coldplay

concertos

david bowie

debaixo de algum céu

dia do animal

dia mundial da criança

dia mundial da música

dia mundial do livro

estádio do dragão

fantasporto

feira do livro

feira do livro do porto

férias

florença

foz do douro

funchal

gabriel garcía márquez

galerias de arte

haruki murakami

inaugurações simultâneas

israel

itália

jorge luis borges

josé eduardo agualusa

josé saramago

julião sarmento

la biennale di venezia

lisboa

livraria galeria papa-livros

livraria galileu

livrarias

livros

londres

luis sepúlveda

madeon

mensagens

metro

miguel torga

murais

museu nacional soares dos reis

museu soares dos reis

música

naftali bezem

natal

noites brancas

nuno camarneiro

ondjaki

os anos

os transparentes

paris

pavilhão grã-bretanha

philip roth

poesia

porto

primavera

projecto arte de portas abertas

provérbios

quantas madrugadas tem a noite

quarteirão miguel bombarda

raymond carver

rua

s. joão

serralves

soho

tel aviv museum of art

teolinda gersão

the national gallery

truman capote

valter hugo mãe

veneza

viagens

todas as tags

blogs SAPO
subscrever feeds