Embora a escrita de Teolinda Gersão seja delicada e simples, a verdade é que demorei demasiado tempo a ler “A Cidade de Ulisses”.
Trata-se de uma história de amor vivida em Lisboa.
Paulo Vaz é um artista plástico, convidado a fazer uma exposição sobre Lisboa. Este convite leva-o a recordar Cecília Branco com quem viveu o grande amor da sua vida.
Tinham-se conhecido nos anos oitenta, ele professor e ela aluna. Apaixonaram-se sem se conhecerem em profundidade, amaram-se em Lisboa, cidade que percorreram durante quatro anos, descobrindo juntos os monumentos, as ruas, os bairros, todo o seu lado pitoresco.
Um gesto violento e irreflectido de Paulo separa-os em definitivo e Cecília parte para sempre... ou quase, a separação é apenas física, ela deixará vários cadernos que servirão de apoio na montagem da exposição encomendada a Paulo.
Teolinda compara Cecília a Nausica, que também ama Ulisses sem o conhecer quando o vê, náufrago, na praia.
Todo o livro tem um ambiente trágico, há relações familiares difíceis, a actual crise financeira é também abordada, assim como as dificuldades do nosso país nos últimos trinta anos.
De forma mais ou menos explícita aqui se acentua a crise civilizacional, a realidade política e social, tudo com muita objectividade e lucidez.
Gostei bastante de regressar a Teolinda Gersão e este livro, escolhido para as férias, não me desiludiu: o texto é rico e denso e, verdade seja dita, uma história de amor mesmo quando vivida no fio da navalha, é sempre uma história de amor.
A Academia Sueca anunciou hoje o Nobel da Literatura 2014.
Trata-se do francês Patrick Modiano, que se tornou o 11º autor premiado nascido em França e o 15º de nacionalidade francesa.
Tem uma obra vasta sendo que o seu primeiro romance, "La Place de l'Étoile", foi editado em 1968 tinha então 24 anos.
No anúncio deste prémio o Secretário perpétuo da Academia referiu-se aos motivos desta escolha:
"Pela arte da memória com a qual ele evocou os destinos humanos mais inatingíveis e descobriu a vida do mundo da ocupação" (nazi).
Parabéns ao laureado. Para todos nós que gostamos de escritores e de livros, fica mais um autor para descobrir.
Manuel Rui (Alves Monteiro) nasceu no Huambo, em 1941. Tem publicados vários livros de ficção e de poemas e, a título de curiosidade, é também o autor do hino nacional de Angola.
Editado em 1982, “Quem me Dera Ser Onda” é o seu primeiro romance e conta a história de uma família que vive num prédio onde é proibido ter animais. Contrariando essa regra, o pai, Diogo, decide levar às escondidas um porco para a varanda de casa, com o intuito de o engordar para a matança do Carnaval. Mas Zeca e Ruca, os filhos de Diogo, acabam por se afeiçoar ao bicho. Dão-lhe um nome (“carnaval da vitória”), brincam com ele, põem-no a ouvir rádio e arranjam mil e um planos para evitar a matança. Será que evitam?
Com uma história aparentemente simples, quase infantil, esta novela aborda temas sérios presentes na sociedade angolana, após a independência: as consequências da guerra, a condição humana, as classes sociais, a corrupção, os preconceitos, a liberdade,…
Trata-se de uma metáfora escrita com uma linguagem que se assemelha à oralidade angolana. Por isso mesmo, precisou de um glossário no final para decifrar alguns termos, o que, juntando à forma de crítica social, me fez lembrar um pouco “a onda” de Ondjaki.
Porque é que comento este livro sem previamente o ter anunciado? A verdade é que foi a leitura sugerida para o mês de Setembro no Clube de Leitura a que pertenço. Brevemente virá a Teolinda Gersão.
55ª exposição internacional de arte
museu nacional soares dos reis
projecto arte de portas abertas
quantas madrugadas tem a noite