Na altura da atribuição do Prémio Nobel da Literatura 2013, fui reler esse grande escritor que nos últimos anos é quase sempre apontado como um candidato ao prémio, Philip Roth. Ainda não foi desta que venceu, o Nobel foi atribuído a Alice Munro, uma Canadiense octogenária, mestre do Conto, vencedora do Man Booker International Prize, em 2009.
Também Philip Roth foi galardoado com esse prémio, em 2011. Autor muito premiado na América, com "Pastoral Americana" venceu o Prémio Pulitzer, em 1997. É um livro que aborda sentimentos contraditórios sobre a América, rico e completíssimo.
Seymour Levov, por todos conhecido como o “Sueco” é judeu e, quando jovem, era a "estrela" do Liceu. Todos, sem excepção, nutriam por ele uma grande simpatia e admiração, idolatrando-o por ser um ás do Desporto, destacando-se no Basebol. Mas para o Sueco o importante e objectivo principal na vida sempre foi passar despercebido, manter a harmonia à sua volta, ter um lar, casar-se e ser feliz. Assim, apaixona-se e vem a casar-se com a Miss New Jersey, vai viver para a casa dos seus sonhos e tem uma filha. Tudo parecia encaixar-se de forma perfeita até ao dia em que vê partir a filha, Merry, de 16 anos, que sai de casa para nunca mais voltar.
Fui percorrendo as páginas deste livro sempre com grande deleite, muito na expectativa de descobrir os motivos que levam uma adolescente a tornar-se bombista, assassinando dessa forma 4 pessoas. Uma jovem que aparentemente tudo tinha para não ser assim, pois era oriunda de uma família que a amava e lhe procurou dar uma educação exemplar.
Coloquei-me no lugar de Merry e não consegui encontrar motivos para tamanha rebeldia e ódio: teria sido a gaguez a causa de tanta revolta? As imagens da auto-imolação do monge budista no Vietname que aos 11 anos sideraram Merry? As evasivas do avô paterno contra alguns dirigentes Americanos? A guerra do Vietname pela qual Merry sempre foi contra? Quais seriam os verdadeiros motivos que a moviam?
Não, nenhuma destas causas me pareceram suficientes para levarem alguém a ser bombista, a matar sem remorsos, a fugir da família sem deixar rasto, trocando o conforto e a protecção por uma vida de pária, com tudo o que isso implica, até mesmo ser violada. A odiar a sua pátria, a América. Verdadeiramente o antídoto do sonho do pai.
Este é o âmago da história mas há mais, muitas questões pertinentes são levantadas: a guerra, o Judaismo, o Catolicismo, o conflito entre religiões e gerações, o orgulho ou a vergonha de ser Americano, entre tantas outras. Tudo muito bem escrito...
Recomendo Philip Roth e “Pastoral Americana”, sem qualquer reticência. É um autor que quero continuar a ler mais e mais.
Para além da participação de Pedro Cabrita Reis com um espaço paralelo à Bienal de Veneza, a representação Portuguesa na 55ª edição é feita através do Trafaria Praia, o cacilheiro que Joana Vasconcelos recuperou e que se encontra atracado perto da paragem de vaporetto dos Giardini.
Ao trazer este cacilheiro que havia sido desactivado em 2011, a artista procurou fazer uma alegoria ao comércio tradicional entre Veneza e Lisboa, por via marítima, que se desenvolveu desde o Renascimento. A água, o transporte marítimo e a arte são três factores importantes a ligar Lisboa e Veneza.
Sobre o cacilheiro, destaco o painel de azulejos azuis e brancos (tão tradicionalmente Portugueses) que reveste o exterior, da proa à popa. Belíssimo!
O convés do navio tem a marca inconfundível da artista através de crochets em algodão e lã, uns suspensos outros pousados, alguns tecidos à mistura, tudo bem iluminado com efeitos extraordinários de pequenas luzes, numa harmonia tranquila e pouco convencional.
Considero que a representação portuguesa nesta edição da Bienal de Veneza é extraordinária: Joana Vasconcelos conseguiu um pavilhão único, amovível e, portanto, a destacar-se de todas as outras representações.
Foi um orgulho ouvir fado a bordo do Trafaria Praia, sentir o pulsar português num agradável passeio que o cacilheiro faz diariamente.
A Nathalie trabalha no Pavilhão Britânico da Bienal de Veneza.
Encontrei-a a ler e quando lhe pedi para a fotografar respondeu rindo, divertida, “Well, I’m not supposed to read here but OK”. Disse-lhe que além de publicar no Numa de Letra não contava a ninguém...
Um dos pontos altos não só de Veneza mas também dos sítios por onde passei nas últimas férias foi, sem dúvida, a Bienal de Veneza.
As expectativas antes de viajar eram altas e a visita não as defraudou, pelo contrário, deixou uma forte marca positiva nas memórias destas férias.
De dois em dois anos Veneza torna-se a capital mundial de Arte, acolhendo “a nata” dos melhores artistas de Arte Contemporânea do mundo, nessa que é a mais antiga e bonita exposição internacional de Arte, espalhando-se por vários pontos da cidade, interagindo com ela. Este ano, teve início a 1 de Junho e vai-se prolongar até 24 de Novembro.
Saindo do vaporetto na paragem do “Giardini”, comprei bilhete para passar um dia nas exposições do “Giardini” e outro nas do “Arsenale”. Aí está Il Palazzo Enciclopedico, um museu com artistas de todo o mundo e exposições em pavilhões de vários países, cada um com os seu próprio curador. Este ano há 88 participantes, 10 dos quais estreando-se nesta exposição. A cada nova edição há mais países a pedirem para serem convidados.
Fiquei orgulhosa com a representação de Portugal, em que destaco Pedro Cabrita Reis com “A Remote Whisper”, um pavilhão colateral à Bienal e do tão conhecido cacilheiro de Joana Vasconcelos “Trafaria Praia” que destacarei num próximo post.
De tanto se ouvir falar sobre Veneza, há a sensação de já lá se ter ido, de se conhecer a cidade. Era o que se passava comigo; agora, depois de por lá ter passado, digo que não é bem assim. Os relatos e as fotografias não nos transmitem os sons, os aromas, o ambiente... e Veneza tem um charme muito próprio, aguça-nos os sentidos: a visão a 3D, o contacto com os autóctones, os cheiros, os sons (o ruído da água é permanente) e o prazer da boa comida italiana.
Sim, Veneza é uma cidade romântica, cheia de canais e ruelas estreitas, onde os turistas de todo o mundo circulam, sem pressa. Foram 4 dias inesquecíveis, incomparáveis.
Se estive na Praça de S. Marco? Claro e comi um gelado, divertida e distraída com tanta gente. Andei de gôndola? Sim, atravessei o Grande Canal, uma vez de gôndola, várias de vaporetto (os autocarros aquáticos de Veneza). Se fui a Murano? Obviamente que sim, entrei numa fábrica e vi ser fabricada uma peça em vidro. Também comprei um "ricordo", como manda a praxe.
Visitei basílicas, das quais destaco "Santa Maria della Salute" e fui ao "Il Ghetto", onde a comunidade judaica se junta para fazer as suas orações.
Vi tudo isso e gostei muito.
Depois, a "Bienal de Veneza", ponto alto das minhas férias em Itália. Há tanto para mostrar, que sobre este evento falarei no próximo post. A não perder....
55ª exposição internacional de arte
museu nacional soares dos reis
projecto arte de portas abertas
quantas madrugadas tem a noite