"Travessia de Verão" foi o terceiro livro que li de Truman Capote e já não me restam dúvidas de que está entre os meus autores favoritos. O que gosto em Capote tem a ver com a forma fantástica como escreve e com as sedutoras histórias que, mesmo tendo sido escritas em meados do século XX, são sempre incrivelmente actuais. Há ainda um secreto motivo, algo bastante pessoal: as suas narrativas passam-se quase sempre em Nova Iorque, com descrições de sítios que tão bem conheço e porque as suas palavras me fazem sonhar e me transportam a esses sítos, revisitá-los é sempre gratificante.
"Travessia de Verão" é um pequeníssimo romance com pouco mais de 100 páginas e conta a história de Grady, uma jovem prestes a completar 18 anos, filha de uma família rica que, durante umas férias de Verão em que os pais fazem uma viagem pela Europa, fica por sua conta no apartamento onde vivem, situado na sofisticada 5ª Avenida.
Grady aproveita o estar sozinha para viver um amor secreto com um jovem judeu, que trabalha em Brooklyn.
Uma vez mais sobressaem os sentimentos, o conflito de gerações e a divisão das classes sociais. Também aqui, tal como nos livros anteriores, foram usadas metáforas, traço peculiar da genial escrita de Truman Capote. Apesar disso, notei algo de diferente, ainda que microscópico, relativamente aos dois livros anteriores: a escrita é menos fluída, mais floreada.
Publicado apenas em 2006, os manuscritos do livro tinham sido encontrados em 2004 pelo porteiro do prédio onde T. Capote vivera, juntamente com vários outros objectos pessoais do autor. Um belo achado, sem dúvida.
Sem ter ficado deslumbrada, gostei. Este é um dos autores norte-americanos da minha preferência.
Em Florença, com o imponente Duomo como pano de fundo e à espera de vez para subir até à Cúpula de Brunneleschi, encontrei esta senhora francesa a ler Albert Camus.
É altura de terminar o relato da minha passagem por Florença. Foram seis posts em que tentei dar uma pequena noção do que vi, do imenso que a cidade tem para mostrar, enriquecendo-nos, porque quem a visita e a aproveita só pode sair culturalmente mais rico. Pelo menos foi como me senti. Muitos sítios, estórias e factos ficaram por partilhar aqui no Numa de Letra; é impossível pôr em palavras tanta beleza arquitectónica, tanta Arte.
Não cheguei a falar na “Casa di Dante” nem na sua igreja, nem em “Orsanmichele” e em tantas outras igrejas e capelas… ahh!... e nos concertos de órgão que soavam à entrada de algumas capelas ao passar na rua, e a que eu quase nunca consegui resistir, sentar-me e a ficar a ouvir, quase sempre comovida.
Não referi os os fantásticos “O Nascimento de Venus” de Botticelli e “A Sagrada Família” de Miguel Ângelo que tive o privilégio de ver ao vivo. Quando penso nesses longos momentos em que fiquei literalmente siderada tamanha era a perfeição, continuo maravilhada. Foram génios únicos, sem dúvida.
…A Pietà de Miguel Ângelo, conservada no Museu dell’Opera del Duomo, concluída pelos seus discípulos e que, comparada com a original que vi no Vaticano, se revela bastante imperfeita.
Nem falei na Piazza della Repubblica que quase diariamente percorri e em tantas outras praças, cada uma com o seu encanto e em vários outros locais onde recentemente foram filmadas cenas do filme inspirado no último livro de Dan Brown, “Inferno”.
Na impossibilidade de visitar tudo o que Florença nos oferece, cumpri o ritual de “Il Porcellino” (a cópia do século XVII, em bronze, da estátua romana em mármore, de um javali que se pode ver nos Uffizi). Passei a mão no focinho brilhante e polido da estátua.
Entretanto aproxima-se a hora do comboio que me levará a Veneza.
Já com saudades, deixo Florença e aqui se completa o que consegui expôr certa de que é pouco, comparado com o que a cidade tem.
Ciao Marilena! Ciao Vanna!
Marilena trabalha na livraria e Vanna é a proprietária.
A caminho do "Tiempio Israelitico", uma sinagoga sobre a qual falarei oportunamente, encontrei a "Libreria Delle Donne di Firenze".
Fui gentilmente recebida pela Marilena e a Vanna, que se deixaram fotografar para o Numa de Letra e quiseram saber alguns pormenores sobre o meu blog.
Quando lhes falei na rubrica “Alguém, algures, numa de leitura”, disseram-me que há uns tempos a “Libreria Delle Donne” promoveu um concurso de fotografia em que o mote eram os livros. Gostei de saber.
Na conversa, deram-me a conhecer pormenores interessantes sobre a "vida" da livraria. Aqui se promovem regularmente seminários, apresentações, exposições e outros eventos culturais.
Dão especial atenção às pequenas editoras de qualidade, apoiando-as, assim como a publicações de autoras femininas, já que têm acesso a catálogos específicos. Também oferecem assistência bibliográfica para traduções de autores estrangeiros e fazem despachos de livros para qualquer parte do mundo.
Sendo uma livraria com parcerias várias, como o "Centro de Documentação" e a "Cooperativa das Mulheres", tem uma boa oferta cultural e didáctica.
É um espaço simpático, acolhedor e versátil, inovador embora "clássico", onde o universo feminino é privilegiado.
Aqui o tempo passa depressa, porque há muito que ver.
As anfitriãs são pessoas de bom gosto, dão alma a este agradável espaço.
Para quem tenciona visitar Florença e precisa de quebrar o ritmo de visitas, tanto esta sugestão como a do post anterior caem bem. Eu gostei muito.
Antes de chegar à 4ª e última parte do relato sobre a minha viagem a Florença, um parêntesis para destacar duas livrarias que descobri no centro da cidade.
A primeira, situada na Via Ghibellina, uma das mais longas de Florença, chama-se “Antica Macelleria di Alfredo Nencioni” e é uma perfeita delícia.
Pequenina mas bem recheada combina Literatura com Arte, pois tem as estantes e até o chão com milhares de títulos e as paredes estão revestidas com quadros. A combinação confere ao espaço um ambiente aconchegado e muito especial, onde apetece ficar, como atestam as imagens.
Aqui descobri, em destaque, Gabriel Garcia Márquez.
Lá, como cá, os gostos assemelham-se...
Sobre a segunda livraria, falarei brevemente.
A beleza clássica de Florença é espectacular e as principais atracções são de tamanha imponência, que será difícil encontrar outra cidade tão "perfeita".
Dessas atracções, há as que já aqui salientei (apenas parte delas, claro!) e há também o Duomo, a catedral de Florença, chamada Santa Maria del Fiore.
Este é mesmo um dos principais pontos turísticos da cidade. A sua fachada é neogótica, em mármore de várias cores.
A0 lado e a condizer com o estilo da catedral, o Campanile di Giotto com 85 metros de altura, revestido de mármore toscano branco, verde e rosa e ainda com painéis de baixo-relevo de Andrea Pisano.
Em frente a ambos, o Baptistério, um edifício redondo e dos mais antigos de Florença. Lá dentro, a enorme pia octogonal onde muitos florentinos célebres, como Dante, foram baptizados. No tecto mosaicos coloridos com cenas do Juízo Final.
É ainda no Baptistério que estão frescos importantes como a Divina Comédia de Dante, de Domenico de Michelino, para além de belíssimos vitrais feitos por famosos artistas italianos, como Donatello. Por fora, exibe a réplica da célebre e pomposa “Porta do Paradiso” de Ghiberti cujos portões são adornados com mosaicos que retratam cenas bíblicas. Os originais, em bronze, estão no Museo dell’Opera del Duomo e são os que mostro na fotografia abaixo.
Mais alta 6 metros que o Campanile, a Cúpula de Brunelleschi domina toda a cidade, sendo possível vê-la de quase todo o lado, assim como também é possível subir os 463 degraus da escadaria interior. É de perder o fôlego, mas a vista vale a pena. A cúpula exibe cenas do Juízo Final e frescos de Vasari.
Nos arredores do Duomo ficam outras atracções interessantes, como a Cripta di Santa Reparata e as capelas Absidais.
O relato sobre Florença está quase no fim, faltando mesmo e apenas “o quase”… do próximo post.
A Piazza della Signora é uma das principais praças da cidade e nela se encontra a Galleria degli Uffizi, o Palazzo Vecchio, a Fontana di Netuno, a Loggia dei Lanzi e uma numerosa quantidade de esculturas ao ar livre, como Hercules e Cacus de Bandinelli e David de Miguel Ângelo.
O Palazzo Vecchio é a sede do município da cidade e já foi sede do Parlamento italiano. Aí fica também um importante museu com obras de Michelangelo, Donatello e Bronzino, entre outros.
A Galleria degli Uffizi é sem dúvida o museu mais importante de Florença e há até quem diga de Itália, porque lá se encontra o maior acervo de arte gótica e renascentista do país, com famosas obras de Leonardo da Vinci , Raffaello, Michelangelo e Boticelli, só para enumerar alguns, pouquíssimos. Ao lado da Galleria degli Uffizi fica a Loggia dei Lanzi, uma espécie de terraço com fantásticas esculturas.
A leste desta praça fica a Basilica de Santa Croce, que guarda os túmulos de Nicolau Maquiavel e GalileuGalilei.
O extraordinário e compacto centro histórico de Florença deve ser percorrido a pé, com mais ou menos gelados e sempre com muita água, tal é o calor que se faz sentir. Mas a riqueza de todos os recantos, que são muitos, a voracidade com que se pretende ver mais e mais aguçam-nos os sentidos. Em cada nicho, parede ou pedra, lá vêm símbolos alusivos à Maçonaria, à qual pertenceram os maiores vultos renascentistas italianos, como se sabe.
Confesso que sinto alguma dificuldade em transmitir a sensação de pequenez que fica, perante tamanha grandiosidade. Oxalá houvesse mais palavras para descrever correctamente o muito que vi. Ainda há mais para dissertar e mostar sobre Firenze, a belíssima cidade, difícil de descrever nestes pequeninos textos.
No próximo post vamos conhecer o edifício mais alto de Florença… e não só!
55ª exposição internacional de arte
museu nacional soares dos reis
projecto arte de portas abertas
quantas madrugadas tem a noite