Continuando o périplo pelo Aeroporto de Bruxelas, duas leitoras concentradíssimas... uma lê "As Sombras de Grey", a outra um livro sobre vinhos.
No atraso de um voo por causa da greve dos controladores aéreos franceses, no Aeroporto de Bruxelas, descobri este empresário de Lisboa a queimar o tempo, lendo um livro.
“A Laranja Mecânica” é um título sonante que não deixa praticamente ninguém indiferente, em grande parte, é certo, por causa do célebre filme de Stanley Kubrick do início da década de 70, mas a génese está no livro de Anthony Burgess, editado em 1962.
A acção desenrola-se em Londres, num ambiente dominado pela violência de inúmeros grupos marginais, que geram o caos através de violações, assaltos, crimes e uma série de delitos da pior espécie. Tudo isto praticado por puro prazer, tornando-se a forma de estar destes jovens, o seu estilo de vida.
Alex é o líder de um desses grupos de delinquentes. Um rapaz de 16 anos com uma índole tão atroz, que a sua paixão pela música clássica é fonte de inspiração para cometer actos criminosos.
Um conflito com os restantes membros leva-o à prisão e é aí que, 2 anos mais tarde, serve de cobaia para o “método Ludovico”, um tratamento de apenas 15 dias, que impedirá qualquer acto ou vontade de praticar o mal, transformando o criminoso num ser bom.
Além de protagonista, Alex é o narrador desta extraordinária história.
Referindo-se muitas vezes a si mesmo como “o Vosso Humilde Narrador”, Alex utiliza uma linguagem própria de adolescentes de um futuro próximo: uma combinação de palavras da língua russa, gíria, calão e raízes semânticas inglesas. Burgess inventou assim muitas dezenas de vocábulos que a princípio podem soar de forma estranha ao leitor, mas rapidamente começam a fazer parte integrante da história, passando o glossário do final a ser praticamente dispensável.
Pelo cunho marcante deste livro, pela capacidade que tem em prepetuar excertos na memória, pelas questões morais que levanta e porque de facto é um livro incrível, lembrei-me várias vezes de uma outra obra que adorei e tanto me marcou: “1984”, de George Orwell.
Recentemente tive o privilégio de conhecer o escritor Afonso Cruz. Além de concretizar a vontade que ficou desde que o li pela primeira vez, pude saber de factos pessoais que, obviamente, não vêem mencionados nos livros. Partilharei alguns neste post… outros, quem sabe, num futuro artigo, quando a ele regressar. Uma coisa é certa: mantenho uma grande vontade de continuar a descobrir a bibliografia deste autor e mais livros seus aguardam na estante (agora quase todos autografados).
“A Carne de Deus” foi o primeiro romance editado de Afonso Cruz embora o primeiro a ser escrito tenha sido “Enciclopédia da História Universal”. Afonso Cruz apresentou-o à Bertrand que colocou algumas reservas em relação ao sucesso comercial, além do facto de já haver um título editado, quase igual: “Inciclopédia da História Universal”. Foi-lhe então sugerido que escrevesse um romance e assim surgiu “A Carne de Deus”, uma história que o escritor há muito tinha na cabeça.
Uma vez mais Afonso Cruz confirma o estilo de narrativa que tanto me agradou em “Jesus Cristo Bebia Cerveja”, assim como a forma hilariante e fácil de expor as ideias, cativando o leitor. Mas aqui a história é bem diferente: trata-se de um enredo cheio de peripécias e muito suspense a fazer lembrar os livros de Dan Brown.
O tema central é a Maçonaria.
A trama começa com o brutal assassinato de Felicijonas Salnius - um dos maçons fundadores da “Perséfone” uma Loja selvagem - com um esquadro metálico enterrado no crânio. Este homicídio, carregado de simbolismo, deixa os restantes fundadores desta Loja Maçónica de tal maneira em pânico que, entre eles, surge a hipótese de serem revelados segredos, para evitar mais mortes.
Tudo escrito com humor!
Não poderiam faltar as personagens engraçadíssimas, com nomes estranhos. O livro tem dezenas: Marin Grigore, Daim Kuçuk, professor Miroiu, Arkadiusz Pilatowski… nomes bizarros que Afonso Cruz foi buscar a um jogo de consola sobre contratações de futebol, quando trabalhava numa Agência Publicitária.
“A Carne de Deus” é também o nome de um mítico cogumelo alucinogénio ainda hoje utilizado no folclore dos curandeiros do México e da Guatemala. Esse e outros “enteógenos” (o mesmo que alucinogénios) são o cerne deste livro mas, para saberem mais sobre a ligação que têm com a história, vão ter de a ler… deixo um excerto:
55ª exposição internacional de arte
museu nacional soares dos reis
projecto arte de portas abertas
quantas madrugadas tem a noite