Notícia recorrente no Numa de Letra, no próximo Sábado regressa ao Quarteirão Miguel Bombarda, no Porto, mais uma edição de Inaugurações Simultâneas de Galerias.
Num fim-de-semana repleto de eventos interessantes na Invicta, entre os quais dois que já destaquei aqui no Numa de Letra, (o Fantasporto e a exposição de Julião Sarmento, em Serralves), vale a pena conhecer pelo menos algumas das novas exposições das 19 galerias que compõem este circuito.
Desta vez o cartaz promocional foi concebido pelo vencedor de um concurso lançado pela PortoLazer para a concepção criativa das próximas edições deste evento - exactamente o número correspondente às restantes edições de 2013.
Cinco cartazes simples e coloridos, da autoria de Pedro Guerreiro, uma escolha que gerou alguma polémica mas que, depois de lida a respectiva memória descritiva, talvez faça um pouco mais de sentido:
“Forte, visual, com impacto, de reconhecimento imediato. Foram estes os pontos de partida para o meu trabalho.
É impossível definir a arte em imagens e por isso demarquei-me de qualquer tipo de cartaz ilustrado com imagens ou fotografias. Queria algo vibrante que nos agitasse e decidi usar cores fluorescentes e ícones fortes. Preferi apostar no cartaz como algo que se possa desdobrar facilmente em vários suportes e ser repetido, reinterpretado e reestruturado. Assim as formas geométricas que acompanham cada edição podem ter vários usos e apropriações.
Por outro lado deixei alguns sentidos latentes em cada cartaz; um círculo que marca o ponto inicial, é o primeiro ponto desta jornada de 5 edições, os dois traços marcam a segunda edição, o triângulo tem 3 vértices para representar a terceira edição e o quadrado ipsis verbis. Terminamos com o asterisco de 5 pontas, a marcar a quinta edição e a deixar uma nota no ar de algo que não acaba aqui e para o ano há mais. As cores fluorescentes por seu lado são escolhidas na sequência das estações do ano que as caracterizam e simbolizam à sua maneira a passagem do tempo. Espero que gostem. Less is more.”
Será seguramente uma tarde animada e diferente para quem por lá andar... espera-se que o S. Pedro dê uma ajuda!
Yasunari Kawabata, Haruki Murakami, Takiji Kobayashi, Kyoichi Katayama compõem a lista de escritores nipónicos contemporâneos de quem já li alguns livros. Junto agora mais um: Kenzaburō Ōe, com “As Regras do Tagame”.
Parece-me pertinente começar por desmistificar o significado da palavra “Tagame” (pronuncia-se taga-may). Não, não é um método zen oriental com propósito terapêutico, tão-pouco o nome de uma música com furor mediático!
“Tagame”, fiquei a saber nas primeiras páginas deste romance, refere-se a uns grandes escaravelhos de água, com forma estranha, que vivem nos riachos montanhosos da floresta de Shikoku, no Japão.
Neste livro, o “Tagame” é o nome dado pelas duas personagens principais, Kogito e Gorō, a um gravador antiquado cujos auscultadores grandes e pretos se assemelham aos tais insectos. É uma peça importantíssima, em torno da qual gira o enredo, e funciona como um veículo para uma estranha forma de comunicação entre estes dois amigos, através de cassetes.
Baseada num facto real - o suicídio do cineasta Jūzō Itami, cunhado do autor -, a história começa com a informação do suicídio de Gorō (prestigiado realizador), dada pela mulher de Kogito (escritor), amigo e cunhado de Gorō.
Daí advém uma série de avanços no enredo, reflexões e meditações, tudo obsessivamente ligado a Gorō.
Encontramos várias alusões artísticas, tanto na área do Cinema, como na da Literatura, Música, Desenho ou Pintura. Até as inúmeras referências pormenorizadas a árvores dão um ar poético e artístico a esta narrativa. Foi o que mais me fascinou, sem dúvida.
Por outro lado há passagens agressivamente perturbadoras e desnecessárias do meu ponto de vista, nomeadamente detalhes relacionados com a actuação da Yakuza - a máfia Japonesa -, um tema bastante explorado neste livro.
O autor combina na perfeição ficção e realidade, reflecte e faz-nos reflectir sobre a condição humana, a amizade, a violência, a incompreensão e a ambição artística.
Sem dúvida, um escritor de letra maiúscula, merecidamente agraciado com vários prémios, entre os quais o Nobel da Literatura, em 1994, o mais importante e que lhe dá verdadeiro reconhecimento.
Bom fim-de-semana!
55ª exposição internacional de arte
museu nacional soares dos reis
projecto arte de portas abertas
quantas madrugadas tem a noite