Há quem seleccione os livros por épocas e estações do ano: o livro xis é bom para a praia, o ípsilon para ler à lareira - a blogosfera está repleta de teorias destas.
As minhas escolhas mantêm-se mais ou menos coerentes ao longo do ano: procuro ser ecléctica, ler livros de autores que me agradem ainda que, claro está, os meus estados de espírito e as últimas leituras tenham influência na escolha.
Posso dizer que o último título veio na altura certa... perfeito!
Depois da leitura sombria e pesada de “Em Queda Livre”, do mestre Golding, decidi que a próxima haveria de ser mais optimista, menos opressiva. Isso e a curiosidade pelo autor Afonso Cruz tornaram fácil a escolha de “Jesus Cristo bebia cerveja”.
Com capítulos curtos e uma escrita muito própria, acessivelmente empolgante - quase naïf sem cair no básico (como poucos conseguem) -, em “Jesus Cristo bebia cerveja” ficamos a conhecer Rosa (a personagem principal), a sua avó Antónia (que queria ir a Jerusalém), o professor Borja (um erudito que ninguém queria ouvir), Miss Whittemore (a inglesa que comprou a aldeia alentejana), o pastor Ari, para além de outras personagens peculiares, comicamente cativantes.
A narrativa desenrola-se no Alentejo, aquele das casas pintadas de branco, o Alentejo da terra seca, dos montes, das oliveiras, das gentes com muitas histórias de algibeira.
O cerne do romance é precisamente o desejo da Avó Antónia querer ir a Jerusalém e da neta, com a cumplicidade do Professor Borja, engendrar uma forma de preparar, no Alentejo, uma falsa Terra Santa para lhe satisfazer esse desejo.
Tantas vezes, olhos postos nas páginas do livro, dei por mim a rir à gargalhada. Contudo, o final surpreendeu-me com um engolir em seco quase a rasar a comoção.
“Jesus Cristo bebia cerveja” acompanhou-me durante a época natalícia, na minha viagem de sonho à Terra Santa e alguns dias após o regresso. Quando lhe peguei, pouco ou nada sabia sobre o conteúdo e desconhecia a parte relacionada com Jerusalém. Daí a boa surpresa, o timing perfeito... (ele há coincidências!).
Nascido em 1971, Afonso Cruz é escritor, músico, cineasta e ilustrador. Tem um currículo “invejável” que inclui, entre tantos outros sucessos, 8 livros publicados, vários prémios entre os quais o da União Europeia para a Literatura, ilustrações em revistas, capas de livros, publicidade, etc..
“A Morte Não Ouve o Pianista”, o pequeno livro de westerns que é o favorito de Rosa e tantas vezes mencionado na história de “Jesus Cristo bebia cerveja” foi escrito e ilustrado por Afonso Cruz. Uma ideia muito original que comprova a versatilidade do autor.
A Numa de Letra gostou tanto que foi a correr comprar “A Boneca Kokoscha”, só para ter o prazer de ver na estante um livro de Afonso Cruz novinho em folha, à espera de ser lido.
O Bairro Judeu tem um "charme" muito próprio, de tão harmonioso e cuidado.
As vestes dos Ortodoxos, todas pretas, são interessantes e contrastam com a envolvência beije dos muros, das escadas, das construções.
O tempo passa a correr, tantos são os pontos de interesse. Sentarmo-nos numa das esplanadas dos muitos cafés da zona, para além de ser óptimo para recuperar forças, é delicioso para o paladar e para a vista – os sentidos apuram-se.
A melhor forma de aqui entrar é também pela Porta de Jafa, atravessando o Bairro Arménio.
A Praça Hurda, sensivelmente no centro do Bairro, é ponto de encontro e partida para os diversos locais interessantes a visitar. Daqui se chega às principais sinagogas, ao Cardo (zona escavada e parcialmente construída), ao Muro da Tolerância, aos Museus,... ao Muro das Lamentações! A praça onde se chega a este Muro é uma espécie de Sinagoga a céu aberto, onde diariamente se juntam a orar muitos grupos de judeus (homens na parte grande da muralha e mulheres na secção ao lado, separada por uma parede e num espaço muito menor).
Daqui se avista, bem centrado, o grande Menorah (candelabro de sete braços), companhia de oração no Shabbath e em festivais de fé judaica.
O Muro das Lamentações é o que resta do muro de suporte do Templo do Monte, mandado construir por Herodes, o Grande. Trata-se de uma parede maciça, beije e lisa, feita de blocos enormes e é o local judaico mais sagrado.
O Bairro Judeu é, de longe, o melhor conservado e o mais organizado da Cidade Antiga.
Para os turistas é um local histórico interessante, para os judeus um centro de culto e espiritualidade.
Antes da conclusão deste último post sobre Israel, apenas uma referência ao imenso que há para descobrir na Cidade Moderna: óptimos hotéis, o Monte das Oliveiras com uma vista extraordinária sobre a muralha e a Cidade Velha, o Museu de Israel – riquíssimo -, o Museu Yad Vashem (um monumento em memória dos mais de seis milhões de judeus mortos no Holocausto Nazi), sinagogas, um bairro onde só vivem judeus ultra-ortodoxos, enfim!...
Fica a sugestão para quem aprecie viagens com sentido e História: nunca será uma aventura, para mim foi a concretização de um sonho, uma “escapadela” verdadeiramente empolgante e inesquecível.
A Terra Santa é formada por Israel, Jordânia e a Península Egípcia do Sinai. Jerusalém é, sem dúvida, o símbolo mais importante deste conjunto.
Aqui convivem três religiões monoteístas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo, cada qual com características muito próprias.
É uma cidade extraordinariamente bela! Com a terra e as pedras de cor beije e com uma mistura enorme de estilos, fruto do passado e da passagem dos povos que ao longo dos séculos fizeram a sua história, transmite uma sensação inigualável, que dificilmente se encontra noutro lugar da Terra: Jerusalém devia ser ponto de visita obrigatório; é preciso lá estar para sentir.
Podemos dividi-la em Cidade Moderna, fora das Muralhas e Cidade Antiga, dentro das Muralhas e composta por 4 Bairros distintos: Cristão, Arménio, Muçulmano e Judeu.
O Bairro Arménio é o mais pequeno de todos e está a ser absorvido pela comunidade cristã. É uma das zonas mais tranquilas e calmas da Cidade Antiga.
Em contrapartida, o Bairro Muçulmano é o maior e o mais densamente povoado. Embora seja uma zona fascinante, está em decadência e aí se encontram as casas mais pobres da Cidade Antiga. A melhor forma de entrar neste Bairro é pela Porta de Damasco, a mais monumental da cidade. É também neste Bairro que fica a conhecida “Cúpula da Rocha”, o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, depois das cidades proféticas de Meca e Medina. Esta cúpula dourada, que se avista de quase todos os pontos da muralha, é encimada pelo símbolo do Islão “O Crescente”, que orienta a vida religiosa dos muçulmanos e tem ligações ao calendário lunar.
O Bairro Cristão é o que mais nos diz, pois é lá que se encontra a Igreja do Santo Sepulcro. A principal porta de entrada neste Bairro é a de Jafa.
É a zona mais visitada da Cidade Antiga e nela se encontra o local mais sagrado para todos os Cristãos: o Santo Sepulcro. As ruas próximas estão repletas de tendas e lojas onde os peregrinos compram recordações.
Apesar de muito movimentado, este Bairro tem um ambiente espiritual, sobretudo perto da Pedra da Unção – que comemora a unção e cobertura de Cristo após a sua morte – e no “Túmulo de Cristo”, onde uma fila interminável de gente pretende entrar. Dentro do monumento, uma pedra de mármore cobre a rocha na qual se acredita que o corpo de Cristo foi sepultado.
Estes dois espaços, próximos, fazem parte da grande “Igreja do Santo Sepulcro”. A quantidade de pessoas e a variedade de raças que constantemente circulam nesta Igreja, todos com imensa devoção e sentimento, fazem-nos sentir o peso daquele lugar no Cristianismo. Por aqui também circulam, paramentados, padres Católicos e Ortodoxos. A Cúpula Catholikon, que cobre a parte central da igreja cruzada, é actualmente usada para serviços Ortodoxos Gregos.
Ainda numa das extremidades da Igreja do Santo Sepulcro, há um grupo de edifícios habitado por uma comunidade de monges etíopes.
Apesar de imponente, a Igreja do Santo Sepulcro e todas as Capelas a ela ligadas são simples.
O Bairro Cristão é um local inesquecível… como inesquecível é também o Bairro Judeu, o mais curioso, que fica para uma segunda parte sobre Jerusalém… em breve!
Com o sol sempre a acompanhar-nos, hoje “iremos” até ao Mar Morto, o ponto mais baixo da terra: 411 metros abaixo do nível do mar.
Sai-se de Tel-Aviv pela auto-estrada (tudo bem sinalizado com placas escritas em três idiomas – hebraico, árabe e inglês – e cerca de 55km percorridos há um corte à direita, que indica “Mar Morto”.
Depois desse corte, começa-se a descer, agora seguindo por uma estrada principal, bem alcatroada: entra-se no Deserto da Judeia. A paisagem muda radicalmente: há o céu azul e depois tudo é beige, da cor da areia. Assim permanecerá até chegarmos ao nosso destino.
De facto, o que se retém é a imensidão serena e clara do deserto, que é interrompida por alguns beduínos com os seus camelos que por vezes se avistam (bem coloridos) e depois as plantações de tamareiras, impecavelmente alinhadas.
Há ainda essa coisa fantástica que são as estufas, em pleno deserto, bem irrigadas de água trazida por enormes condutas. Fica-se espantado como é possível, do meio do nada, surgirem enormes extensões de areia lavrada e cultivada.
Mas a estrada continua a descer, com placas que indicam o zero (nível do mar) e depois menos 150m, menos 250m, até começarmos a avistar essa massa azul enorme, numa linha baixíssima da costa, chamada Mar Morto. Na realidade, não se trata de um mar, mas de um lago com a água tão rica em minerais, que a torna 26% sólida (contém brómio, iodo e magnésio). É por isso que não é possível ir ao fundo, as pessoas são aconselhadas a deitarem-se de costas, porque flutuam.
As margens estão carregadas de sal e as lamas envolventes têm grandes virtudes terapêuticas. É também por isso que na zona existem várias unidades hoteleiras com óptimos spas.
A partir destas águas fabricam-se bons produtos de beleza para o rosto e corpo.
É hora de regressar, Israel tem muito mais a mostrar, não se pode perder tempo.
Na volta, a meio caminho para Jerusalém, 2 controles policiais, várias viaturas da ONU e depois um corte para Ramallah: isso mesmo, ali ao lado fica a Palestina.
Mas nós prosseguimos, o objectivo é chegar à cidade Santa. Será sobre ela o próximo post, provavelmente o mais sentido, tantas são as emoções à flor da pele.
Saindo de Old Jaffa a sul de Tel-Aviv em direcção ao norte, seguindo sempre a linha do mar e as praias, passa-se nas enormes Torres Ópera cor-de-rosa, construídas em 1990 e chega-se ao moderno porto de Tel-Aviv.
Entre outras atracções, há um mercado diário de produtos israelitas, onde os cheiros intensos das especiarias se misturam com o aroma das frutas e legumes. Aí se vendem também vinhos, queijos, pães de muitas variedades, chocolates, sabonetes, peixe e carne, tudo produzido e confeccionado em Israel.
É também no porto que se encontram os melhores restaurantes de peixe e marisco da cidade.
Tel-Aviv representa a face moderna do Estado Judaico. É onde fica a sede do Governo, assim como as Embaixadas dos países com os quais Israel mantém relações diplomáticas.
Uma cidade com avenidas largas, repleta de museus, galerias e salas de espectáculos. Porque é impossível falar de tudo, destacarei o Museu de Arte de Tel-Aviv, um dos mais importantes da cidade. Situado num complexo que inclui a Biblioteca Municipal Beit Ariela, o Teatro Camerie, o edifício da Ópera, tudo complementado por um jardim com esculturas de consagrados artistas como Henri Moore.
A galeria de arte Givon, bem conhecida na cidade, expõe trabalhos de nomes consagrados da actualidade e inclui um espaço chamado “Sala do Projecto de Cinema Net”, onde se expõem novas tecnologias media, animação computorizada, vídeos digitais, robóticos e interactivos.
Muito interessante e “à frente”, esta galeria, de certa maneira, representa um pouco a tecnologia avançadíssima judaica.
A norte do centro, fica uma elegante área residencial de arquitectura estilo Bauhaus, assim como a Casa de Ben Gurion, antiga residência do 1º primeiro-ministro de Israel. Foi David Ben Gurion que a 14 de Maio de 1948 declarou o nascimento do Estado de Israel. O principal aeroporto do país tem também o seu nome.
Actualmente Neve Tzedek é o principal bairro artístico construído na nova cidade de Tel-Aviv. Um quarteirão com uma atmosfera especial: as ruas são bordejadas de canteiros floridos e óptimas para andar a pé.
Ouvem-se muitos idiomas, aqui passeiam estrangeiros amantes de arte.
Neve Tzedek significa “oásis de justiça”. É aí que vivem actualmente artistas e escritores. Há lindíssimos restaurantes, cafés, livrarias, lojas de designers jovens e consagrados, galerias de arte e joalharias.
O Centro Cultural de Arte e Dança Suzanne Dellal fica também localizado neste bairro onde as casas, recentemente restauradas, têm uma arquitectura bonita.
Estamos quase a deixar Tel-Aviv (“Colina da Primavera”), embora muito tenha ficado por dizer: há que ir para ver e crer.
Próxima paragem, Mar Morto.
De volta à rotina antes de dissertar sobre a minha leitura actual, aqui fica um pequeno registo do que foi uma viagem verdadeiramente inesquecível.
Israel é um pequeno país, fica numa faixa de território hostil, grande parte do seu solo é árido (tem grandes extensões de deserto) mas tem a agricultura mais avançada do mundo. A nível de tecnologia, também está no topo das grandes nações. Depois há toda a costa banhada pelo Mar Mediterrâneo, magnífica, com praias de areia branca, uma luminosidade a perder de vista. O Mediterrâneo é uma das fronteiras, separa Israel da Europa (ou liga!), fonte inesgotável de riqueza (a água, bem precioso, o peixe, o sal, as algas,... tudo aproveitado!).
A nossa viagem começou em Tel-Aviv, a capital, muito cosmopolita , cheia de turistas. Com o hotel sobre a praia, sabia bem tomar o pequeno-almoço com o mar ali ao lado: pessoas a nadar, outras a fazerem jogging, outras ainda a passearem os seus cães, os skaters, os turistas a aproveitar o sol. Durante os dias que lá estivemos a temperatura ía dos 13/14ºC à noite, até aos 20º/21ºC durante o dia. Sem vento, era um clima estupendo.
O trânsito de Tel-Aviv é intenso e algo caótico. Os israelitas chamam-lhe a "Small Apple", orgulhosamente, por ter vida 24 sobre 24 horas. É, de facto, uma cidade que não dorme.
A nossa primeira passagem foi na cidade velha "Old Jaffa". Vaguear pelas entranhas deste local que desemboca no mar, é perder a noção do tempo, tantas são as preciosidades que abarca, os pontos interessantes a ver. Muitas galerias de design, ao ar livre a venda de sumo de romã ou laranja, feito na hora - ambos estupendos!
Ficam as fotografias que atestam o que atrás foi dito e a promessa de proximamente sair outro post, ainda de Tel-Aviv.
Oxalá gostem!
55ª exposição internacional de arte
museu nacional soares dos reis
projecto arte de portas abertas
quantas madrugadas tem a noite