Quando as leituras anteriores deixam algo a desejar ou o estado de espírito não é dos melhores, agarro-me a Gabriel García Márquez ou Haruki Murakami, com a certeza de não haver desilusão.
Desta vez fui "ao fundo da estante" para desenterrar a 2ª edição de "O Veneno da Madrugada", publicado pela "Colecção Século XX" da Europa-América. Este romance deu a GGM o Grande Prémio do Romance Colombiano e foi já um prelúdio para as grandes obras que se seguiram e que culminaram com "Cem Anos de Solidão", obra-prima que lhe valeu o Nobel da Literatura.
A história de "O Veneno da Madrugada" desenrola-se à volta dos pasquins que misteriosamente são colocados porta a porta, durante a noite e que deixam as pessoas assustadas com o que poderá ser denunciado, já que, à excepção dos muito pobres, ninguém está a salvo das revelações desses malfadados papéis que desencadeiam crimes e muita agitação.
O escritor já menciona Macondo, introduz personagens como o Padre Ángel, o coronel Aureliano Buendía e a Mamã Grande, figuras que o acompanharão nas publicações posteriores, nomeadamente em "Cem Anos de Solidão".
Uma vez mais a criatividade, o apurado sentido de humor, as frases assertivas dos diálogos e a escrita fantástica do génio, não desiludiram.
Numa altura em que a comunicação social anunciou a sua "perda de memória" e consequente paragem na escrita, esta leitura, que nem programada havia sido, acaba por ser uma pequena homenagem ao grande romancista nascido na Colômbia, figura maior do panorama literário do século XX, tábua de salvação quando os títulos a ler não apetecem, porque as férias são precisas ou simplesmente porque não.

De
C. a 24 de Julho de 2012 às 11:44
Olá,
Voltar a Gabriel Garcia Marquez é sempre reconfortante- é voltarmos a essas personagens de uma riqueza ímpar. A escrita, a narrativa é perspicaz, este "O Veneno da Madrugada" é disso exemplo.
Quando correm rios de tinta sobre se o Nobel está demente, ou apenas acusa o desgaste dos anos, para nós leitores fica este Gabo, o das obras que nos trouxeram um pouco mais de luz sobre a realidade (tantas vezes mágica) da américa latina.
Caso não tenha tido oportunidade até ao momento, e se me permite, sugiro o monumental "Viver para Contá-la" -lê-lo é voltar a esse imaginário dos romances, dos contos. Tenho a insensatez de afirmar que é o romance maior da sua obra.
Boas leituras :)
Agradeço a visita e o comentário que achei excelente.
Os rumores que surgiram sobre a possível perda de memória ou demência de GGM, tanto quanto percebi, têm a ver com a publicação do 2º volume da sua auto-biografia, "Viver para Contá-la".
É um livro que também aguarda vez na estante - este comentário aguçou a vontade de o ler rapidamente - porque para já, “Cem Anos de Solidão” continua a ser o livro mágico de Gabo.
Retribuo o votos de boas leituras :-)
De
C. a 24 de Julho de 2012 às 13:09
No seguimento da troca de ideias: http://www.eluniversal.com.mx/notas/860501.html (uma parte de mim prefere acreditar nesta versão);
Aquando da publicação do 1º volume ficou a ideia de que devíamos esperar mais 2 volumes. Contudo os anos forma passando. Sinceramente pensei em duas hipóteses para o "atraso" 1º- O período que se segue ao 1º volume poder retratar a relação de Gabo a Cuba, a Fidel e isso ser um assunto que em vida poderia ser sensível, o que me remete para a 2ª hipótese da própria editora estar a jogar com isso e com o facto de um Nobel se vende, depois de falecer, bem...(vejamos o exemplo de Saramago).
Acho que prefiro esperar mais uns anos e ter este senhor por cá mais uns tempos, até porque ainda tenho uns quantos livros dele para ler:)
Uma das coisas que mais gosto dos livros do GGM é esse repetir de personagens que vamos descobrindo de livro para livro.
A maior parte dos livros dele foram requisitados na biblioteca da UCV nos meus tempos de estudante, por vezes tenho pena de não os ter à mão e poder reler e recordar.
Jorge
Olá Jorge,
Espero que este artigo tenha ajudado a reviver algumas dessas memórias!
De
marcia a 27 de Julho de 2012 às 01:52
Nada como um livro que corresponde às expetativas e nos emociona. É uma espécie de porto de abrigo das coisas menos boas, que nos faz sonhar e viver outras histórias.
Os livros de Gabriel García Márquez têm esse fantástico dom...
De
sentaqui a 27 de Julho de 2012 às 15:53
Um livro que ficará na minha lista dos que hei-de de ler, tal a descrição apurada e lúcida que fizeste deste fabuloso escritror e do livro, mais propriamente.
Beijinhos
Espero que a sugestão não desiluda.
Que bom, sentaqui... Gosto muito de te ver por aqui.
Obrigada.
Beijinhos
De
redonda a 30 de Julho de 2012 às 23:49
Ainda não li este livro, nem o conhecia pelo título.
Do autor já li Cem Anos de Solidão, Amor em Tempo de Cólera (este adorei) e Crónica de Uma Morte Anunciada.
Também os li, Redonda.
Era escusado dizer que gostei muito.
De
pedrices a 1 de Agosto de 2012 às 13:46
Que homenagem bonita!
Acho que devia fazer o mesmo... Ainda tenho lá alguns que não li...
Obrigada, Pedro!
Apoio essa tua decisão ;-)
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